Relembre live Bolsonaro que entrou no radar da investigação da PF sobre golpe

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Uma live transmitida pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) em 30 dezembro de 2022, horas antes da sua fuga aos EUA, entrou na mira da Polícia Federal após a deleção premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República. De acordo com um dos investigadores, a live traria provas “indiciárias”, ou seja, traz indícios, no discurso de Bolsonaro, de que ele estaria ciente da trama golpista revelada pelo ex-assessor.

A relevação foi feita por Josias de Souza, no Uol. O jornalista tem acesso a uma pessoa que acompanha as investigações e confirmou a informação. Ele chama atenção para um momento da live em que Bolsonaro fala sobre a posse de Lula (PT), que aconteceria dois dias depois. “Busquei dentro das quatro linhas, dentro das leis, saída para isso aí”, disse.

Pois bem, Bolsonaro gravou a live e zarpou para os Estados Unidos. Dois dias depois, em primeiro de janeiro, Lula tomou posse. Uma semana depois, em 8 de janeiro, ocorreu a derradeira tentativa de golpe bolsonarista em Brasília e, na mesma semana, em 12 de janeiro, a PF apreendeu uma minuta golpista na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro que ocupava, naquele momento, o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Na minuta golpista havia um decreto presidencial que instauraria um decreto de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o objetivo de anular os resultados das últimas eleições.

Agora corta para as recentes investigações que levaram à delação de Mauro Cid. Quando o ex-ajudante de ordens ainda estava preso, a PF fez uma devassa nos seus celulares e encontrou outra minuta golpista, que continha um decreto de Estado de Sítio e a abertura de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem. Segundo a matéria de Josias de Souza, o objetivo dos policiais federais agora é encontrar a relação direta entre esses fatos. E é nesse sentido que a live de Bolsonaro entra no radar.

O último mimimi
O pronunciamento “frouxo”, segundo os próprios apoiadores, na última live transmitida durante o mandato, caiu feito uma bomba em meio aos golpistas que desde 30 de outubro de 2022 pediam uma ‘intervenção militar’ em frente aos quarteis. Cabisbaixo, Bolsonaro começou a live fazendo proselitismo pseudo libertário, à la Monark. Afirmou que não há liberdade no Brasil para questionar o sistema eleitoral ou mesmo para debater a questão da Covid-19, reclamando das vozes que se levantaram na imprensa, na política e na sociedade contra o oceano de absurdos que ele e seu grupo político ‘brindaram’ o país sobre esses e outros temas. Em seguida falou sobre os ‘feitos’ do seu governo antes de começar a discursar sobre aquele momento de derrota eleitoral e fim de mandato.

“Como eu digo, a eleição nós vemos nas ruas. Quem acompanha eleições sabe que quem não leva o povo para a rua não tem voto. Nós levamos multidões para as ruas. As esperanças de vitória eram palpáveis”, afirmou antes de reclamar que foi alvo de mentiras e de perseguição da Justiça Eleitoral, dando a entender que as eleições teriam sido corrompidas de alguma maneira.

“Isso tudo fez massas de pessoas irem às ruas, revoltadas com o resultado das eleições. E essa massa, atrás de segurança, foi pros quarteis”, justificou logo em seguida. Passados os 30 minutos de transmissão, vem o trecho que estaria na mira dos federais.

“Hoje é 30 de dezembro e está prevista a posse de Lula para primeiro de janeiro. Eu busquei, dentro das quatro linhas, dentro das leis, respeitando a Constituição, uma saída para isso aí. Se tinha uma alternativa, se podíamos questionar alguma coisa ou não. Tudo dentro das quatro linhas, e sei que tem muita gente que me critica quando eu falo ‘quatro linhas’, mas eu não saí das quatro linhas”, declarou Bolsonaro.

É importante lembrar, ainda, que o final da live de Bolsonaro, o cinegrafista provoca e diz a palavra “selva” – uma saudação militar que serve como “dog whistle”, o apito de cachorro entre ultradireitistas brasileiros. A tentativa de conclamar a militância de extrema direita causou atrito em grupos de aplicativos, como Whatsapp e Telegram. Em um grupo de Telegram monitorado pela Fórum, os golpistas se dividiram entre aqueles que jogaram a toalha diante da frouxidão de Bolsonaro e aqueles que ainda insistiam que há uma “estratégia” do futuro ex-presidente para desencadear o golpe.

Fonte: Revista Fórum

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